Regina Célia Gaiotto Marcelino faleceu em 03/10/2019 e foi sepultada em Tietê
Recebi este
"bilhete" (escrito a mão) de Regina Gaiotto, falando sobre o lançamento do seu do seu livro
"Beijos na Sacada" para ser editado num jornal de Cerquilho:
"Regina Gaiotto convida os cerquilhenses para lançamento do seu
livro de poemas "Beijos na Sacada", no dia 19 de maio, sábado, no
Shopping Tietê, no período das 10:00 horas às 22 horas.
Regina Célia Gaiotto Marcelino nasceu em Cerquilho em 05 de
outubro de 1949. Casou-se e mora em Tietê onde trabalha na Caixa Econômica
Federal. Aposentou-se em maio de 1994.
Após a aposentadoria recomeçou a escrever poemas, algo que sempre
gostou de fazer. Participou de vários concursos e antologias.
Tem
poemas publicados em edições de livros brasileiros para o Timor Leste, Portugal
e outros países de língua portuguesa.
"Beijos na Sacada" é um livro que traz de volta muitas
das vivências da infância da poetiza em Cerquilho, terra onde nasceu e que
tanto ama.
O comentário do livro, feito pela Professora Doutora da Faculdade
de Educação da USP - Beatriz Fétizan, é um verdadeiro retrato da alma dos
poemas do livro. Comenta a Dra. Beatriz: "Quando se é capaz de pensar que
o trem leva o perfume das magnólias para as terras distantes, seguramente, anos
mais tarde, pode-se a viagem de volta e reencontrar em si mesmo o índio, o
negro, e o caboclo e celebrar a vida. E pode-se se encontrar tia Dina na noite
do tempo povoada de olhos escuros, nascidos da lua nos jamboleiros".
E assim, Regina pretende tocar na alma dos cerquilhenses e
tieteenses, fazendo uma viagem nas asas do verso, no vagão do tempo.
Oi
Valdemar, tudo bem?
Agradeço o estímulo e a força. Espero que venha no dia 19. Ficarei
feliz.
Se precisar de mais alguma coisa, meu telefone é...
O texto acima você poderá adequar de acordo com o espaço no
jornal. É apenas uma ideia.
Talvez, se possível, seja melhor publicar na semana que vem, para
sair uma semana antes do lançamento. Você não acha melhor?
Qualquer
dúvida, por favor, me ligue.
Um abraço.
Regina 01/05/2001
P.S.
- Gosto de ler o que você escreve no jornal."
(Nunca
entendi o porquê, o editor do jornal que eu trabalhava na época publicou, apenas esta notinha):
"Regina Gaiotto lança livro
A cerquilhense Regina Gaiotto convida seus amigos de Cerquilho
para o lançamento de seu livro "Beijos na Sacada", neste sábado, 19
de maio, das 10 às 22 horas, no Shopping Tietê. No livro ela retrata sua
infância em nossa cidade. Estão todos convidados." Ah! o "tijolinho" tinha apenas 3 cm por 6 cm.
Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada, soa dentro
de minha alma.
A cada pancada tua,
Vibrante no sol aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
Ah! Os poetas! Fernando
Pessoa, o maior dos poetas portugueses, nos acalenta com esses versos, traz
lembranças e luz ao pensamento.
Há em mim uma imagem do
passado que se incorporou ao meu ser. É uma recordação de florescências.
São as badaladas no sino
soando dentro de minha alma, trazendo mais perto a saudade de minha aldeia.
Cerquilho, minha terra, hei de
canta-la muitas vezes.
Quem, dos anos cinquenta e
sessenta não se lembra de que havia na rua Dr. Soares Hungria, em frente à casa
do Sr. João Módena, uma linda magnólia? Ela está ali em nossas memórias,
plantada por algum poeta da natureza, às margens da Estrada de Ferro
Sorocabana.
Suas flores brancas e enormes,
espalhavam seu aroma pelas ruas da cidade em tardes de ventania. Como ventava!
O crepúsculo tornava-se etéreo quando o sol se punha atrás da grande árvore que
arremessava pétalas ao ar, iluminando a paisagem.
O trem ao passar levava o
frescor do perfume de magnólia para longe, às cidades da Alta Sorocabana,
pensávamos.
Crianças dos arredores,
corriam atrás do vento para segurar com as mãos flores que poderiam se
emborrachar ao chão. Caiam pesadas. Pelo menos algumas pétalas segurávamos.
E era extasiante ver uma flor
inteira salvar-se no gramado das margens da ferrovia, entre folhas de erva. Que
alegria enfiar-nos debaixo das ramagens para encontrar a flor inteira. Podíamos
apreciá-la em sua total beleza, nas mãos, como um presente da velha árvore. Era
impossível colher flores de magnólia que, por encanto ou astúcia da natureza,
ficavam bem no alto da árvore, inatingível.
Pétalas macias e aveludadas,
suave perfume, essas sensações na memória me fascinam.
Quem tivesse a sorte de ficar
com a flor a oferta: ou para a Mãe do Céu ou para mãe da terra. Era por elas
que corríamos tanto ao vento, atrás das flores.
A igreja exalava o suave aroma
da flor e, em forma de graças. Maria saia do altar com o Menino Jesus nos
braços e ia para as ruas proteger aquelas crianças que saltavam alegres entre
os vagões de trens, corriam nos trilhos e brincavam de roda no pátio da estação.
À noite, mulheres punham
cadeiras nas calçadas e passavam horas a conversar, enquanto as crianças
atentas contavam estrelas no firmamento e quantas flores ainda restavam da
florada.
São incontáveis as magnólias
que trago na saudade. Quem sabe por ter vivido tão intensamente aqueles
momentos, sinto ainda o perfume se espalhar pela alma...
Esta "página" foi transcrita do livro "Beijos na Janela" de Regina Gaiotto.
Esta "página" foi transcrita do livro "Beijos na Janela" de Regina Gaiotto.
Ah! Tomara que o Poder Público se sensibilize, plantando um pê de Magnólia, no local indicado, para substituir a outra. Homenageando assim a poetisa Regina Gaiotto e os demais cerquilhenses da época. Vale a pena registrar que esta árvore é urbana, portanto merecendo muitas outras mudas espalhadas pela cidade, embelezando e perfumando. a ainda mais a nossa cidade.
MTB 54068
Concordo com sua bela e merecida homenagem!
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