Vanguarda


“Avant-garde” *

O pintor estava acabando de retocar seu quadro quando a mulher entrou e começou a discutir. Discussão vai, discussão vem (na realidade a conversa vinha mais do que ia, pois ela não o deixa falar) veio de lá também uma vassourada. Malandro, o pintor já acostumado às investidas da esposa baixou a cabeça. O instrumento (mortal, quando manejado pelas mãos hábeis de esposa casada com comunhão de bens) atingiu o quadro. A tinta fresca se esparramou e o quadro ficou irreconhecível. Irritado, ele não se incomodou em fazer outro. Mandou-o assim mesmo para a Bienal. Mas, a julgar pela opinião da crítica que deu o Grande Prêmio ao quadro, ela compreendeu perfeitamente as condições que presidiram à confecção do mesmo. Eis a crítica: “Há, neste quadro de Pedro Gôngora, mais violência do que todos os seus trabalhos anteriores. Sente-se nele um conflito latente entre a execução inicial e o acabamento rápido, rude, como se o pintor quisesse nos exprimir as várias fases da alma humana, aqui branda e preocupada, ali agressiva e sem direção. Vê-se perfeitamente que ele se curvou neste seu trabalho só levando a cabeça quando o quadro já estava completo. É uma obra que contém uma colaboração estranha ao nosso acervo artístico, como se nela estivesse realizado, sem retoque e sem rebuscamento, um flash rápido e conciso de reação fundamental da alma humana”.
* “Vanguarda”, em francês. Millor Fernandes.
Até a próxima postagem. Fui!
Ah! "A pinicilina é um mofo. Para produzir efeito é preciso conservá-la em lugar bem seco, do contrário poderá mofar". Barão de Irararé - Jornalista

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